por P. Gonçalo Portocarrero de Almada, 2024

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1. Definição. A Igreja é o instrumento da redenção de todos os homens, “o sacramento universal da salvação, pela qual Cristo manifesta e actualiza o amor de Deus pelos homens.” “Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, quer na pessoa do ministro – ‘o que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz’ – quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles’ (Mt 18,20)” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1088).

2. Etimologia. O termo ‘Igreja’ é a tradução portuguesa do vocábulo latino ecclesia que, por sua vez, tem a sua origem no étimo grego ekklesia, que significa “assembleia dos convocados”, ou chamados. Refere, portanto, dois principais elementos: a vocação dos fiéis para a santidade e para o apostolado; e a sua união orgânica pois, embora o dom da fé seja pessoal, só pode ser vivido em comunidade, ou seja, em Igreja.

3. Igreja visível e espiritual. A Igreja é sacramento porque, embora como instituição seja uma entidade visível, é sobretudo uma realidade invisível, composta por todos aqueles que estão na graça de Deus.  Para além da Igreja triunfante, da qual fazem parte todos os Anjos e Santos no Céu; também há a Igreja purgante, constituída pelas benditas almas do purgatório, que já têm garantida a salvação eterna, mas ainda estão em estado de purificação; e a Igreja militante, composta por todos os fiéis católicos, ou seja, todos os baptizados, cuja salvação ainda não está garantida.

Pela comunhão dos santos, também fazem parte da Igreja todos os que, mesmo não baptizados, a ela pertencem espiritualmente, como são os que agiram sempre com recta consciência e que, por uma ignorância invencível, desconhecem a Igreja, ou a necessidade de a ela pertencer para a salvação. Neste sentido se afirma que “extra Ecclesiam nulla salus”, ou seja, fora da Igreja não há salvação.

4. Fundamento bíblico. O termo ecclesia só consta uma vez nos Evangelhos: quando Jesus, em Cesareia de Filipe, constitui a Pedro como o alicerce sobre o qual Ele próprio constrói a Sua Igreja, à qual promete a infalibilidade, pois as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16,18). O Papa é o sinal visível da Igreja católica: “ubi Petrus, ibi Ecclesia, ibi Deus”, ou seja, “onde está Pedro, aí está a Igreja, aí está Deus”.

5. A eclesiologia paulina. Quando, já depois da sua ascensão ao Céu, Jesus Cristo apareceu a Saulo de Tarso, identifica-se com a Igreja que ele até então perseguia (At 9,3-6). A eclesiologia paulina será uma aplicação dessa imagem: da mesma forma como o corpo humano é um só, não obstante a multiplicidade dos órgãos, assim a Igreja é una na multiplicidade dos seus membros (1Cr 12,4-30).

6. A missão da Igreja é a de Cristo, realizada pela graça do Espírito Santo: a pregação do Evangelho e a administração dos Sacramentos. A Igreja também realiza, desde a sua fundação, um intenso trabalho social e cultural em todo o mundo.

7. Organização. A Igreja é, por instituição divina, hierárquica e carismática. Enquanto hierárquica, depende do Papa, que governa a Igreja em comunhão com o episcopado mundial, sendo os bispos coadjuvados pelos presbíteros. Os diáconos têm algumas funções litúrgicas, mas foram instituídos sobretudo em ordem ao serviço da caridade. As ordens religiosas e os movimentos apostólicos são de origem carismática: não fazem parte da hierarquia, mas muito contribuem para a salvação das almas e para a santidade de Igreja.

8. Notas: A Igreja católica é definida por quatro propriedades essenciais: é una na fé e no regime ou comunhão; é santa na sua origem, nos meios que utiliza e no fim que se propõe; é católica porque é universal; e apostólica, porque todas as sedes episcopais têm origem num dos doze apóstolos.

9. Conclusão: Na Igreja, o importante é Deus e a sua acção nas almas e no mundo. Todos os fiéis são chamados à santidade e ao apostolado, mas por diferentes caminhos vocacionais. Os santos são o protótipo do cristão, porque são “o sal da terra” (Mt 5,13) e “a luz do mundo” (Mt 5,14-16).

Bibliografia:

  • Catecismo da Igreja Católica, Gráfica de Coimbra, 1993.
  • Código de Direito Canónico, 2ª edição revista, Ed. Theologica, Braga, 1997.
  • Vaticano II, Documentos Conciliares, União Gráfica, 1966.
  • Dominique Le Tourneau, Les mots du christianisme, Fayard, Paris 2005
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