por José Ribeiro e Castro, 2024

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É difícil determinar ao certo se o centrismo é apenas um posicionamento, um pensamento ou até uma ideologia, um método ou processo de ação política. Provavelmente um pouco de tudo isto, dependendo as suas características concretas que sejam mais marcantes e definidoras dos respetivos intérpretes, geografias e contextos históricos. Um ponto é absolutamente essencial: a geometria é o principal, pois não há centrismo se não estiver ao centro – mais ou menos “rigorosamente ao centro”, mas sempre ao centro.

Esta dominância da geometria só existe no centrismo – não há outra corrente política para a qual o lugar no xadrez seja tão importante e determinante para a sua identidade. Olhando aos extremos, estes são mais hetero-determinados do que auto-assumidos: a extrema-direita e a extrema-esquerda rejeitam, frequentemente, serem “extremistas”, qualificativo que lhes é aposto por adversários. Não assim com os “centristas”, que o afirmam sem ambiguidades e assim querem ser reconhecidos. E, quanto às correntes de esquerda e de direita (que integram famílias de pensamento diversas tanto à esquerda, como à direita), também diferem, muitas vezes, entre a afirmação própria e na qualificação alheia. Além disso, estas correntes retiram as convicções e propostas programáticas da sua substancial construção histórica, doutrinária e ideológica e não do lugar de cada qual no tabuleiro político. Por isso mesmo o centrismo é a única corrente política que extrai de um lugar a sua identidade e denominação: centro = centrismo. Não há outra assim.

A atitude dominante do centrista corresponde a aforismos clássicos, muito enraizados na cultura ocidental, que já se encontram em Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) ou Ovídio (43 a.C. – 18 d.C.): in medio virtus (no meio está a virtude). Aforismos que surgem também na cultura popular corrente: nem tanto ao mar, nem tanto à terra; nem oito, nem oitenta. Busca um posicionamento central entre esquerda e direita, longe dos extremos, para procurar harmonizar, compatibilizar, desenhar compromissos, selecionar o “melhor”, encontrar o ponto de equilíbrio. E procura colocar-se no terreno mais favorável a ser escolhido para governar, a “arte do compromisso”.

Em sistemas multipartidários, o centrismo desempenha papel relevante, facilitando a formação de coligações. O multipartidarismo é o ambiente que mais favorece o aparecimento e continuidade de partidos centristas com significado.

As críticas mais frequentes aos centristas apontam-lhes “oportunismo” e “falta de convicções”, por considerarem que as suas posições não resultam de convicções próprias, mas de bissetrizes entre posições alheias, e que correm principalmente para a oportunidade de exercer o poder. Ao que os centristas, em resposta, afirmam terem posições próprias, mas estão sempre abertos a melhorá-las com contributos de terceiros, e que são especialistas da moderação, da estabilidade e da concertação, como necessidade política vital das sociedades democráticas.

A agudização do grau de confrontação entre esquerda e direita nas sociedades democráticas pode constituir oportunidade propícia à afirmação de vozes centristas ou de forças políticas com esta inspiração principal. Porém, a experiência recente nos Estados Unidos da América e na Europa mostra que, se há vozes que efetivamente surgem, não há novas forças políticas centristas que se imponham ou sequer que apareçam. Uma evidência mais de que para uma força política surgir e se afirmar, a oportunidade não basta e não é o mais importante.

Na Europa, o partido centrista mais antigo foi o Deutsche Zentrumspartei (Partido Alemão do Centro), fundado em 1870, um partido católico, com cerca de 20% dos votos, que esteve no governo de 1919 a 1932. Após 1945, perdeu peso para a CDU. A partir do final do século XX, surgiram posições políticas que se afirmam do “extremo-centro” ou do “centrismo radical”, valorizando mais intensamente o pragmatismo e a necessidade do compromisso. Nesta linha insere-se o movimento multifacetado que apoia o Presidente francês Emmanuel Macron, eleito em 2017.

A nível internacional, a IDC – Internacional Democrática Centrista reúne, de todo o mundo, os partidos democratas-cristãos e outros partidos moderados ou do centro, no total de 86 membros, tendo ainda 10 partidos observadores. O PSD é o representante de Portugal na IDC. Até 1999, chamava-se IDC – Internacional Democrata-Cristã, nome adotado em 1982 pela UMDC – União Mundial da Democracia-Cristã, fundada em 1961.

Referências bibliográficas:

  • ALEXANDRE VATIMBELLA, Le Centre et le Centrisme : de la Révolution à Macron, CREC (Centre de recherche et d’étude du Centrisme) Éditions, Paris (França) 2017
  • DIOGO FREITAS DO AMARAL, Centrismo, Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura, vol. 19, col. 732-733, Lisboa 1979
  • JOHN LAWRENCE HILL, The Political Centrist, Vanderbilt University Press, Nashville TN (EUA) 2009
  • JOSÉ RIBEIRO E CASTRO, Centrismo, POLIS – Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, 1, col. 766-772, Viseu 1983
  • MANUEL CALVO JIMÉNEZ, Diez razones para ser de centro, Almuzara, Córdoba (Espanha) 2020
  • YAIR ZIVAN (ed. – várias colaborações), The Center Must Hold: Why Centrism is the Answer to Extremism and Polarization, Armin Lear Press, Estes Park CO (EUA) 2024
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